AUTORAS: VANESSA SOUZA SANTOS
MIRIAN PEREIRA
1. Avaliação: um dos maiores desafios
para o professor
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente
do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e
aprendizagem. Por meio dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do
trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos
propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o trabalho
docente. Assim, a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a
realização de provas e atribuições de notas.
A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que
a rodeia, mas tem de estar em sintonia com a comunidade e com o tempo em que
vivemos. Logo, a escola responsável não ensina a memorizar, mas a refletir,
fazer relações entre dados, informações e idéias, desafiar o senso comum,
aprender a pesquisar saber trocar idéias, ou seja, aprender a aprender
aprendendo.
Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de
conferir notas e certificados que, atestam o conhecimento ou a capacidade do
indivíduo, tornando assim imensa a responsabilidade de quem avalia. A avaliação
é comumente, acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes, de incoerências.
A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do
trabalho escolar tanto do professor como dos alunos.
O
que é avaliação?
Em
encontros com professores e até relatos de especialistas, constatamos uma
contradição entre as intenções e o processo efetivamente aplicado, na busca de
uma definição ou de um posicionamento acerca da avaliação. Certamente tal contradição
nasce da autocensura gerada pelo descompasso entre uma imagem idealizada da
avaliação, encontrada em teorias atuais, progressistas, e a realidade cotidiana
das escolas, condicionadas, estruturalmente, pelo sistema de promoção e
seriação e, conjunturalmente, pelas péssimas condições concretas de trabalho e
pelas determinações de superiores.
Talvez
por esse motivo, mesmo que aparente, surjam tantas concepções de avaliação,
sempre vagamente apresentadas nas formulações verbais de professores, pais e alunos,
que identificam a avaliação como tudo o que ocorre nas práticas avaliativas,
como prova, nota, boletim, recuperação, aprovação, etc.
Entre
estudiosos do tema, percebemos uma interminável discussão, seja pelo monopólio
da verdade, seja pela tentativa da precisão do conceito, o que fez surgir
conseqüentemente uma variação conceitual muito grande.
Em
cada conceito de avaliação subjaz uma determinada concepção de educação. Na
questão específica da avaliação da aprendizagem, a escola encontra-se diante de
duas correntes resultantes de concepções antagônicas, pautadas, é claro, nos
modelos de sociedade: a liberal conservadora e a social democrática.
Avaliamos,
bem ou mal, para medir o desempenho escolar, mas será que podemos julgar
classificar, estabelecer preconceitos, perseguir ou ignorar nossos alunos pelo
desempenho que eles apresentam? Se realmente avaliamos para medir o desempenho
escolar, então porque não usamos os resultados dessas avaliações apenas para
melhorarmos esse desempenho ao invés de "punirmos com a reprovação, a
humilhação e a indignidade" àqueles que concluímos ter um mau desempenho?
A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que
a rodeia, mas tem de estar em sintonia com a comunidade e com o tempo em que
vivemos. Logo, a escola responsável não ensina a memorizar, mas a refletir,
fazer relações entre dados, informações e idéias, desafiar o senso comum,
aprender a pesquisar saber trocar idéias, ou seja, aprender a aprender
aprendendo.
Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de conferir
notas e certificados que, atestam o conhecimento ou a capacidade do indivíduo,
tornando assim imensa a responsabilidade de quem avalia. A avaliação é
comumente, acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes,
de incoerências.
É comum confundir avaliação com os procedimentos ou
instrumentos utilizados para "medir" o desempenho dos alunos. Os
instrumentos ou procedimentos são meios para obter informações (resultados de
provas, por exemplo) sobre o andamento do processo de aprendizagem e sobre a
eficiência do ambiente de aprendizagem programado. Em outras palavras, os
instrumentos são meios para obter diagnóstico do processo de aprendizagem e de
ensino. Uma outra função importante da avaliação é indicar ao aprendiz
(localizar, explicitar) o que precisa ser feito, revisto, estudado,
re-elaborado, para superar dificuldades e estabelecer relações para o
desenvolvimento de estruturas cognitivas. Para serem compatíveis com uma
avaliação educativa, as estratégias criadas pelo professor precisam incentivar o
aluno a analisar e avaliar seu próprio desempenho (auto-avaliação). Desse ponto
de vista, observar, registrar, analisar e interpretar, e criar estratégias de
intervenção, fazem parte do processo de avaliar, para que ele auxilie na
aprendizagem e não, apenas, classifique.
Outro aspecto do processo de avaliação é a discussão coletiva
da avaliação realizada. Nesse sentido, professor e aluno podem discutir a
subjetividade da apropriação do conhecimento. Assim, propiciando ao aluno a
reflexão, ele cresce como pessoa, como cidadão crítico e aprende também a
assumir seus compromissos. "Do ponto de vista do aluno, a qualidade
principal do professor está na arte de orientar. Primeiro, está claro que
orientar é também avaliar. A habilidade de "puxar" o aluno para
frente, abrindo-lhe oportunidade cada vez mais promissoras, motivando sua potencialidade,
apoiando os êxitos e progressos, depende intrinsecamente da capacidade
avaliativa do orientar para saber com precisão do trajeto evolutivo como um
todo" Demo.
5. Quais são os instrumentos de coletas
de dados mais utilizados na escola?
Compreender que o ato de
avaliar dá-se em três passos fundamentais: primeiro, constatar a realidade;
segundo, qualificar a realidade constatada; terceiro, tomar decisão, a partir
da qualificação efetuada sobre a realidade constatada, tendo por pano de fundo
uma teoria pedagógica construtiva.
O primeiro passo, a
constatação da realidade é efetivada via a configuração descritiva, do objeto
da ação do avaliador, ou seja, como ele está se manifestando. Esse objeto de
avaliação pode ser o desempenho do aluno, sujeito da aprendizagem, mas também
poderia ser qualquer outra coisa, ação ou pessoa. Para essa configuração, é que
usamos os instrumentos, como extensões de nossa capacidade de observar a
realidade. Assim sendo, testes, questionários, fichas de observação, etc.,
propriamente, não são instrumentos de avaliação, mas sim instrumentos de
coleta de dados para a avaliação. Eles nos subsidiam
na observação da realidade, que deverá ser qualificada; a qualificação dos
dados da realidade, sim, é o ato central da prática da avaliação.
O segundo passo é a
qualificação da realidade observada, descrita, configurada. É neste passo que
afirmamos se o objeto de nossa ação avaliativa está se dando num estado
satisfatório ou não. Essa qualificação se dá por um processo de comparação
entre a realidade descrita e configurada e um padrão de expectativa de
qualidade. E, esse padrão depende de um conjunto de variáveis, mas
especialmente de nossa compreensão daquilo que estamos avaliando. No caso da
aprendizagem, dependerá da teoria pedagógica que estamos utilizando, com todas
as suas nuanças de entendimento filosófico, pedagógico, técnico (tradicional,
piagetiana, freireana,...), assim como do que consideramos importante como
resultado do processo educativo (respostas específicas a respeito de
informações já elaboradas cientificamente; respostas criativas a partir de
situações problemas colocadas; habilidades construídas e sedimentadas, etc...)
O terceiro passo é a tomada
de decisão. Na medida em que qualificamos alguma coisa, nos colocamos numa
posição de “não-indiferença”, ou seja, não permanecemos neutros em relação a
ela. Assumimos uma posição positiva ou negativa; poderá ser mais ou menos
positiva ou mais ou menos negativa, mas nunca será uma posição neutra. É a
partir daí que tomamos a decisão de agir, seja aceitando a realidade com a
qualidade com que se manifesta, seja propondo algum tipo de ação para
modificá-la, evidentemente, para melhor. Por isso é que se pode dizer que, na
prática da avaliação da aprendizagem, onde atuamos junto com um sujeito humano
que deseja aprender, o ato de avaliar é um ato solidário com o educando na
busca do seu desempenho mais satisfatório. O educador, que avalia, serve-se da
prática da avaliação com um recurso que subsidia o seu ato de dar continência,
suporte, para que o educando possa fazer o seu caminho de aprendizagem e,
consequentemente, de desenvolvimento, da melhor forma possível. A avaliação,
assim, subsidia o encaminhamento mais saudável possível do educando na sua
trajetória de aprender e desenvolver-se.
6. As relações entre o planejamento, a avaliação e a aprendizagem
Nessa perspectiva a avaliação do processo de aprendizagem e
de ensino, possibilita investigar e refletir sobre a ação do aluno e do
professor instigando a transformação através do contexto da sala de aula.
Para Luckesi (1999), ainda vivenciamos a “pedagogia do
exame” no contexto escolar, que é permeada por uma prática autoritária,
disciplinadora e classificatória que mantêm e reproduz a sociedade hegemônica.
Assim, apesar de alguns instrumentos avaliativos serem diversificados, na
maioria das vezes, o tratamento com os resultados não costuma varia muito. Não
damos atenção aos erros, e são eles que detectam as não aprendizagens e não
pensamos sobre o que fazer para que as dificuldades sejam superadas.
Apesar dos professores definirem essa prática rotineira como avaliação, Luckesi
(1999) destaca que fazemos mera verificação dos resultados obtidos pelos nossos
alunos.